sábado, 20 de agosto de 2011

Pedido

Eu sinto algo estranho no ar. Uma tensão que antes não existia.

Chamem de intuição feminina, instinto ou palpite. Mas sei que tem algo errado. Algo que eu não sei.

É tão incômoda essa sensação. Por isso tenho estado tão insegura.

Você não sabe mentir pra mim.

Você me disse que contaria tudo.



Se aconteceu alguma coisa, se você viu ela de novo ou se num momento de fraqueza, cometeu um erro... Me conte. Não posso te garantir o que vai acontecer, mas vai ser melhor do que agora.

Você sabe que sou ciumenta. Sabe que tenho de ciúme de você com elas.

Quero continuar confiando em você.

Eu sei perdoar, você sabe disso.

Eu gosto tanto de você, e você também sabe disso.

Não me deixa mais nessa insegurança, meu amor. Me procure.



Me conte o que está acontecendo.

terça-feira, 5 de julho de 2011


Ela era como uma flor de pétalas aveludadas. A face rosada, o tronco maleável pelo vento, tendo na seiva que corre dentro de si um coração cheio de espinhos.

Ele era como uma nogueira velha. As raízes profundamente arraigadas na terra, a sombra caindo pela face, o coração escondido nos recônditos escuros.

Eles cresceram ali, no mesmo cercado da praça. Ela se impressionava com a sua majestosa presença, avançando metros até o céu, enquanto ela só se afastava alguns centímetros do chão. Ele admirava a sua terna delicadeza, a cor rosada que sempre cobria suas pétalas.

Eles se aproximaram lentamente, avançando poucos centímetros por vez, levando meses para se encontrarem. Quando se tocaram, despertaram uma veia há muito tempo esquecida, que bombeava seiva para o coração. Calor, semelhante as chamas que são capazes de matar esses seres.

Certo dia, a nogueira adoeceu. A pequena flor se assustou ao ver um ser tão forte se encolhendo na fraqueza. A pequena flor chorou. E se preocupou muito, quase em exagero.

Foi então que a flor percebeu o quanto gostava daquela nogueira desajeitada e torta. Tão torta que não aceitava seus afetos preocupados.

A nogueira não irá morrer, ela melhorará. Ainda assim, a pequena flor tenta segurar sua raiz (que pareceu fria no último toque, deixando os espinhos do coração aflorarem mais uma vez em defesa) para não deixar a nogueira cair. Nem desistir.

Ainda que minúscula, irá ajudar. Sempre.



Porque nogueiras também precisam de cor.

terça-feira, 28 de junho de 2011


Eu percebi que tenho dito muitas vezes que estou chateada com você.
E também percebi que isso pode estar sendo interpretado de forma errada.


Você não tem me magoado. Inclusive, acho nossas discussões muito produtivas. Hoje mesmo disse para outra pessoa que você está me fazendo abrir os olhos para o mundo e crescer. Tenho notado que fico magoada por coisas pequenas e sem sentido, e muitas vezes, por situações que eu mesmo provoco, pressupondo o que você falou. Nem sempre é assim, tenho razão em algumas brigas. Mas na maior parte, é birra.

Tenho me preocupado com isso. Porque pode ser que você pense que não estou bem ao seu lado. Naquela discussão do dia 19, você se lembra? Você mencionou que se achava a pior pessoa do mundo por me magoar assim. Eu não desmenti. E essa foi um dos meus grandes erros.

Você é incrível. É meu companheiro, amigo, colega. Me dá carinho. Me apoia, aguenta meus surtos! Me faz crescer, e muito, sempre fez. Não sei se já te disse isso, mas é uma das melhores pessoas que conheço. Me orgulho de te ter do meu lado, admiro você.

Tenho medo de nunca ter deixado isso claro. E na verdade, esse texto é mais um relato do que uma postagem poética. Só quero te dizer tudo o que não consigo falar olhando nos seus olhos.


Você é importante pra mim.

Você não me faz bem, você me faz feliz.

Estou do seu lado porque quero, porque gosto.
Não por carência. Não porque preciso.

Estou com você porque amo seus olhos, seu humor e sua sinceridade. Porque amo sua forma estranha de demonstrar carinho. Amo sua preguiça, seu desleixo, sua simplicidade.

Carinho eu posso conseguir com qualquer um.

Com você é diferente.

domingo, 26 de junho de 2011

Passos


Meus passos eram lentos e curtos, em contra-ponto aos seus, que me buscavam na direção contrária. Avistei, no escuro, um vulto que eu sabia que era o seu. Os faróis de um carro iluminaram você por um segundo, e eu tive certeza. O casaco do seu avô, o cabelo preso, aos mãos no bolso. Aquela figura alta e esquálida que eu gostava muito.

Ao perceber-te, meu corpo todo mudou. Minhas pernas, involuntariamente, aceleraram o ritmo, acompanhando meu coração. Minhas mãos se enfiaram nos bolsos e o meu foco foi para o chão. Senti um leve rubor nas bochechas e uma sensação quente na ponta das orelhas. Dentro de mim, um rebuliço. Fora também. Mas eu tentava disfarçar desviando, a todo custo, a minha atenção do lugar em que você se encontrava.

Era inútil. Os meus olhos procuravam os seus.

Ao te encontrar, um abraço. No frio, todo meu corpo foi envolvido por calor humano. E, paralelamente, por uma sensação cheia e incômoda, uma sensação de despedida, de última vez.

Sentamos no sofá. Eu olhava seu rosto, já tão conhecido, e percorria cada canto dele com as minhas mãos. As duas pintinhas marrons, na base do pescoço, que eu tanto adorava (sem você saber). Você fazia 'barulho de monstro' nas minhas bochechas, e foi a primeira vez do dia em que eu ri. Fazia menos de 5 minutos que eu estava na sua presença.

Eu alternava meu foco entre o chão (mais precisamente, o carregador da bateria do notebook) e o seu rosto. As piadas que você fazia (a maioria delas me tirando, obviamente) me faziam rir com mais vontade. Uma frase se repetia na minha mente sem parar: "eu vou sentir tanta falta dele".

Mas por que eu sentiria falta? Eu estava bem, ele estava bem, não havia sinais de tempestades no nosso céu. Não havia nada que pudesse me fazer perdê-lo. Então por que parecia que era a última vez que eu olhava os seus olhos fundos e castanhos (que hoje pareciam verdes, juro!), o seu nariz estranho, o seu bico quando fala "não"e o seu pescoço longo? Por que parecia que eu nunca mais estaria tão próxima, tão bem, tão sua?

E é claro que você percebeu que havia algo errado. Como não perceberia conhecendo todas as minhas pestes, as minhas pragas, os meus sins, os meus nadas, as minhas tão variadas e mentirosas afirmações de que tudo está bem? Conhecendo, inclusive, todos aqueles sentimentos (dos bons aos podres) que eu escondo de todos, mas não consigo guardar de você?

Mas entre todas as palavras que soltei (depois de inúmeras negações) tudo pareceu exigências. Quando na verdade, não é. Se trata de sentimento, não de tempo. Não, nem sentimento não é. É expressão. Isso. O que quero é a sua expressão. Que eu possa ler tua alma tão bem quanto você lê a minha.

Meu coração está mais calmo agora. Aliviado pelas suas certezas e olhares.

É por isso que estou escrevendo pra você. Pra saber o que sinto.

E eu tenho tanto a dizer, mas ainda não posso falar.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Frio. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Solidão.Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Cansaço. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Desespero. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Fuga. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Exaustão. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Peso. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Desorientação. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Frieza. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Raiva. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Saudade. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Vertigem. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Farpas. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Distorção.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Oím



Quando eu disse que não queria mais e você acatou a minha decisão, tudo que passou pela minha cabeça foi


"Ê, nunca mais eu vi
Os oím do meu amor,
Nunca mais eu vi
Os oím dela brilhar
Nunca mais eu vi
Os oím do meu amor
São dois jarrinho de flor
E todo mundo quer cheirar"


Por isso chorei.
Por pensar que eu não veria mais os seus olhos brilharem tão perto dos meus.

domingo, 29 de maio de 2011

Temporal




Gotas. Lágrimas caindo a noite inteira, por muitos motivos, por motivo nenhum. Algumas conversas realizadas, outras incompletas, uma ausente.

Um coração angustiado aguardando a morte. Ou algo muito parecido.

Uma sensação calma e serena, um leve sussurrar: "tudo passa".

E talvez a vida tenha passado também.



Fim.

Tudo sempre termina.

Se não acabou a vida, acabou essa história. Acabou a nossa história. Acabaram todas as histórias.


E eu só vejo o nada.

sábado, 21 de maio de 2011

Fim do Mundo

Foto: Ploft...
Autor: Rui Matos


Há tantos boatos de que o mundo acaba (ou começa a acabar) hoje que não consegui me desviar dessas informações. Pleiteiam meu pensamento idéias meio divagadas, sobre o que aconteceria se isso realmente fosse verdade.

Se Jesus voltasse amanhã, não teria coragem de olhar pra ele. Mesmo pra quem não é cristão, não dá pra negar que ele foi uma grande pessoa, com caráter e conceitos bem formados. Não segui seu exemplo. Ou talvez até tenha tentado, mas não cheguei nem aos pés.

Sou uma pessoa cheia de defeitos. E mais do que isso, conheço meus defeitos e muitas vezes não tento corrigi-los. Eles já fazem parte de mim. Sou suscetível aos acontecimentos da vida, e muito sensível. Sofro por coisas pequenas. E muitos me acham grudenta, mas na verdade, sou só carente.

Tenho medo de muitas coisas. E sei que muitas vezes fiz mal pra pessoas que amava. Tenho momentos de amargura e crueldade. E já cometi inúmeros pecados, sou rude e grossa de vez em quando. E quase sempre choro, por questões que poucos entendem. Forcei milhares de sorriso e menti muitas vezes dizendo que estava ótima, quando na verdade eu queria entornar um copo de formol.

Mas a idéia que mais me incomodou nesse dia foi: como eu gostaria de passá-lo? O que eu gostaria de dizer ou fazer pela última vez?

Primeiramente queria dizer que a escolha mais completa do meu coração seria passar esse dia com a minha família. Sim, tem sido momentos difíceis, mas eles são TUDO o que mais amo nesse mundo, são a razão de eu viver e de fazer tudo o que faço, são meus incentivadores, minhas inspirações, meus amores. Eles SÃO a minha felicidade.

Mas claro, isso não seria possível em um dia, já que demoro 20 horas pra chegar em casa.

Pensei, então: queria dizer algumas coisas pra algumas pessoas.

Lembrei imediatamente do Nino e da Faeca, que são pessoas tão amáveis e de quem sinto tanta saudade. Pessoas que amo e com as quais eu seria capaz de passar as 24 horas de cada dia da minha vida sem jamais me cansar. Pensei na Paolinha, que sempre forma esse novo quarteto com a gente. Nessa gorda boboca que me faz rir todos os dias e que reclama da vida comigo. Dessa criancinha meio grande que desperta o meu lado infantil (que nem está tão adormecido assim). O Leone e a Jaqueline, sempre tão presentes. A gargalhada desse monstro que dá pra ouvir da outra esquina e o prato gigante que aquele palito que a Jaque é come. Por todos os dias e noites que eles me acolheram e me deram carinho e muitaaas conversas.

Lembrei dos meus tios e primos, que estão comigo desde o meu nascimento. Ainda que não tão presentes, eu sei que posso contar com eles quando precisar. E em especial a Inês, o Odair e a Kellen, que foram minha primeira-segunda família e a Tia Diva e o Tio Vitalino, que são minha segunda-segunda família.

Aos amigos distantes que fazem MUITA falta: Alan, Raiane, Kmyla, Diego, Giovanni, Leonardo, Arissa. Das tardes de filmes e pipoca, das confidências, dos lanches e dos jogos de canastra. De tudo o que foi e quero reviver em cada minuto que posso estar com vocês. Pelas conversas inteligentes e pela cultura inútil de todos os dias. Por existirem.

Ao Erick, por ter me dado a maior lição e experiência da minha vida: o amor. Um sentimento único e etéreo, que nunca se extingue dentro da alma humana. Por me aturar por tantos anos, cuidando de mim e me dando tudo de você.

Aos amigos próximos: Cauã, Carol, Carolina, Nipo, Louise, Fabrício, Maurílio, Gaby, Felipe. Com alguns, ainda uma discreta amizade, sobre a qual eu gostaria de dizer "Tenho vontade de que cresça muito". Com outros, uma já construída relação de cumplicidade, onde troca de segredos e confiança é um ponto-chave. Pessoas do meu convívio diário (ou quase) que quando vejo eu penso "Quero abraçá-lo(a)".

A Elis agradeço pela experiência maravilhosa que tem sido trabalhar com ela e me aproximar dela. Por me dar a chance de te dar um abraço-gigante-cheio-de-amor e por não me esconder quando algo vai mal. Por me encher de orgulho e de vontade de trabalhar.

Ao Anderson eu queria dizer... o que eu poderia dizer? O quanto eu o admiro, o quanto eu o amo e adoro o abraço meio desconcertado dele? Não, seria pouco. Também não poderia dizer que a presença dele fez diferença na minha vida. É mais. É uma amizade a qual eu dou muito valor e que me transforma a cada dia. Um amor platônico. É isso que é.

Ao Geison. É muito difícil definir o que sinto. E é muito difícil te dizer o que quero. Se lembra da metáfora (terrível!) que usei pra você? Sim, você é um pássaro que foge de ninhos. Ou pelo menos, fugia. Já não sei mais se é assim. Mas sempre tive muito medo, Gê, de ultrapassar alguma linha não muito definida entre nós. Medo de criar pra você uma atmosfera familiar demais onde você não se encontraria. Jamais te tiraria a liberdade, gaiolas não são próprias para pássaros. Mas que mal existe em um pássaro entoar uma canção junto ao outro? Nenhum mal. Você é meu melhor amigo, que me ouve em todos os momentos do dia, que atura meus choros e minhas crises existenciais. Você me faz pensar e ver o que está errado, e sempre me dá uma nova ótica sobre o mesmo problema. Você me ajuda a combater os medos que tenho, e quando eu não consigo lutar, você me protege, da sua forma bizarra que tenta manter aquela fachada distante. Mas quando você me acalma sussurando que tudo está bem, aí eu entendo que você se importa.

Isso pode ter parecido meloso ou dramático. Talvez até os dois. Mas se o mundo acabar agora, eu quero que você saiba que a minha canção está sendo cantada. Que a minha voz tem ganhado mais força por causa do seu apoio, e que você pode se juntar à ela quando quiser. E olha que aqui estou falando só da amizade! =)



Isso pode ter parecido confuso pra muitos. E é. Mas se vocês entenderam o pouco do muito que sinto por cada um de vocês, já é suficiente.

Se o mundo acabar hoje, saiba que estou com vocês.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Eu sinto medo.

São 2 e meia da manhã e eu não consigo dormir.

É engraçada e terrível essa sensação, é como se houvesse um bicho, quase uma pulga, dentro de mim, que começa apenas fazendo coceguinhas nas paredes do meu estômago, e então esse bicho vão aumentando e se alastrando, passando para os rins, o fígado, o intestino, o útero, o esôfago até chegar na garganta e me sufocar, sufocar, sufocar, sufocar.

Eu tento controlar as lágrimas, eu não quero parecer fraca, mas não dá.

Já é um monstro isso que tenho dentro de mim.

Eu não gosto do frio, mas senti-lo abranda um pouco essa sensação. Tenho que me equilibrar nessa balança, decidindo o que é menos pior.


Eu me sinto só. E tenho medo. E esse medo faz eu me sentir mais só.

Eu não quero ficar assim.


Eu sei que em casa eu estaria bem. Que eu poderia até acordar aos gritos, mas alguém viria me abraçar no meio da noite e dizer que está tudo bem.

Mas e aqui? Quem eu tenho?


Eu sinto medo, muito medo. E não sei como acabar com isso.


Medo.

sábado, 14 de maio de 2011


Eu tenho sentido falta de alguém.

De um amigo querido que tem estado tão distante. Do meu quase-irmão, quase-marido, quase-eu.

Tenho sentido falta daquele cara que me disse "Eu gosto das mesmas coisas que você, mas não tanto quanto você". Daquele garoto que imitava Feijão e Rango comigo. Tenho sentido falta da sua arrogância que nunca ofende ninguém, talvez por causa da pessoa misteriosamente popular que você é. Todo mundo te ama, e as vezes não dá pra entender. Eu já senti vontade de te matar muitas vezes. De arrancar cada fio de cabelo (que já não são muitos) para te torturar. De apertar teus três dedos podres pra te fazer sofrer.

Mentira, nunca fui tão longe. Só quis te matar. Várias vezes. Mas Zeus sabe que eu não seria capaz.

Porque eu amo você, pequeno hobbit testudo, amo muito. E eu tenho sentido falta da sua presença, das nossas brincadeiras, de passar um tempo juntos assistindo filme e comendo brigadeiro ou simplesmente falando mal dos outros.

Tenho sentido falta de você.


Volta pra minha vida, vai.

domingo, 24 de abril de 2011

Foto: The Keys II
Autor: Dário M. F. Santos


Duas respirações. Um compasso.

Eu estava aninhada no peito dele, sendo envolvida pelos seus braços. Era noite, era frio, e o seu calor me mantinha aquecida.

Ele me fazia carinho e a sensação era boa.

O ar estava tenso, a iminência do que poderia acontecer me deixava apreensiva. Por vezes sem conta pensei "Será que não estou aumentando e distorcendo os fatos?". Eu queria acreditar que não.

Eu sentia falta dele.

Tinha sido confusa a nossa história. Doeu. Machucou. Mas teve momentos impagáveis. Além disso, nossa naturalidade um com o outro cresceu muito.

Eu sentia falta dele.

Muitas coisas tinham acontecido desde então. Histórias se resolveram, outras começaram e logo acabaram e algumas nem mesmo chegaram a começar. Houve tropeços, quedas e saltos.

Mas eu sentia falta dele.

E confesso que desde o momento em que os 'fantasmas' realmente se tornaram 'fantasmas' pra mim eu pensei nele com frequência. Não entenda mal. Eu não tinha em mente nenhuma relação mais profunda que a amizade. Mas eu ficava bem na presença dele, quando a sua mão tocava, mesmo sem querer, a minha mão ou o meu rosto eu sentia um arrepio difícil de explicar. Ele era/é meu porto seguro. Era engraçado como meus problemas pareciam insignificantes quando ele estava por perto. E tinha um sorriso filho-da-puta que surgia sempre que eu o via.

Eu sentia falta dele.

E naquele momento, naquela madrugada de Páscoa, quando nossas mãos se encontraram e nossa respiração se sincronizou, eu me senti feliz. E diferente daquele outro começo, eu não fugi. Eu queria.

Porque eu sentia falta dele.

E assim como o começo foi diferente (apesar de elementos tão iguais, você notou?), a história está sendo escrita de outra forma. E estou gostando muito dessa nova fonte.

Agora, calmamente e sem planos, espero pra ver a trajetória desse vôo. E desejo que, tão cedo, eu não volte a sentir a sua falta.


Desejo que você continue aqui.

sexta-feira, 15 de abril de 2011



Saudade.
Não apenas uma palavra sem tradução, um sentimento.

Saudade é resquício, é mancha, é cicatriz.
Saudade é tudo aquilo que parte levando um pedacinho de nós junto.
É tudo aquilo que se vai sem que queiramos.

Saudade é acompanhar de longe o crescimento de uma árvore, é ver uma flor desabrochar sem poder observá-la de perto.

Saudade é amar aquilo que está longe dos nossos olhos, mas que nunca sairá do nosso coração.


Saudade é sim termo sem explicação.

Mas é mais, é muito mais.


Saudade é mortificação.

quarta-feira, 23 de março de 2011


Ela dançava suavemente pelo salão. Havia pessoas por todos os cantos, o chão tremia com tantos passos e o murmúrio de vozes era ensurdecedor. Ainda assim, era suavemente que ela dançava. Costurando entre as pessoas, desviando de casais, deslizando sem esbarrar em nenhum obstáculo. Seus pés mal tocavam o solo, e seus braços pendiam ao longo do corpo, onde suas mãos seguravam o longo vestido rodado. Era cor de palha seu vestido, fazendo um lindo conjunto com o cabelo de cor semelhante, distribuído em curtos cachos, e os olhos azuis da cor do céu.

Ela se zangava quando alguém lhe dizia que seus olhos eram da cor do mar. Não, não eram. O mar é volúvel, por vezes escuro e misterioso, nunca se sabe os perigos que reserva. Já o céu é claro e limpo, com um azul cerúleo que encanta. Era dessa forma que ela se portava, clara e independente. Com sua forte personalidade encantava a todos de maneira tão eficiente quanto o céu.

Mas ela percebeu que algo estava errado quando viu um homem sem rosto caminhando pelo salão. Interrompendo a sua dança de borboleta, seguiu às pressas (no limite que uma dama pode se apressar) atrás do cavalheiro. Porém, eram muitos os presentes na festa e logo perdeu de vista o seu perseguido. Só então se deu conta de que ele não era o único: agora, a maioria dos presentes também estavam sem rostos.


Foi nesse momento que, em outro canto da casa, ele se deu conta de que algo estava errado. Mantinha uma conversa mesquinha com uma garota fácil, estava apenas fazendo o jogo que antecede todas as conquistas. Para ele, aquilo era fácil. Era conhecido em toda província por suas inúmeras habilidades, muitas veneravelmente apreciadas pelas mulheres. Algumas dessas, é claro, não podiam ser mencionadas diretamente sem colocar em risco a honra dos presentes. Rivalidades existiam, já que seu encanto causava inveja em muitos pretendentes das melhores damas da cidade.

Então, sem nenhuma prévia que geralmente antecede desastres, a sua taça de vinho quebrou enquanto ainda estava em sua mão. Espantado, olhou para a mulher que o acompanhava e percebeu que sua face desaparecera. Precipitou-se à janela e lá fora avistou a cor chumbo no céu.


Nas escadarias que separavam o jardim da porta central, ela estava estática, mirando o céu. Todas as estrelas haviam desaparecido e a impressão que se tinha é de que uma camada de concreto havia coberto o céu. Seu coração batia aceleradamente, suas pupilas dilatadas buscavam alguma saída, compreensão ou resposta.


Ele percorria o salão desesperadamente. Eram tantos não-seres que seu coração pulava toda vez que avistava um rosto vazio. Tentava manter o foco: precisava encontrá-la.


Ela atravessou o jardim a passos largos, sem mais se importar com a elegância. O estábulo ficava um pouco afastado da casa do senhorio, o suficiente para não incomodar convidados em dia de visitas ou recepções, como aquela. Tentava se lembrar de como havia sido convidada.

Todos os olhares estavam voltados à ela. Era a mão mais desejada da província, todos os cavalheiros presentes desejavam solicitar-lhe uma dança, muitos com o intuito de conquistar seu coração. Ela não era apenas uma mulher de inteligência e beleza ímpar (como se isso não fosse o bastante para aguçar todos os sentidos da cidade), ela também era inalcançável. Sempre dançando só, bailando uma ciranda interior que lhe proporcionava um brilho nos olhos e um rubor na face. Eles não sabiam, mas ela dançava uma sinfonia executada por violinos e bandolins. Internamente, sua chama era mais intensa.


Um amigo seu estava pretendendo a mão de uma dama. Ele nunca a tinha visto, mas o amigo lhe garantira que era a mais bela das mulheres. Como o amigo parecia irremediavelmente apaixonado, aceitara seu convite para apadrinhar o cortejo dos dois, já que seu nome tinha forte impacto sobre as mulheres e suas famílias. Poder era sua palavra-chave.


Ela já alcançara os estábulos. Conhecia bem os cavalos, apesar de sua memória ser vaga a respeito da origem dessa familiaridade. Entre os presentes, escolheu um alasão branco, que tinha em sua ferradura as asas de Pégasus. Ela não era supersticiosa, mas sabia que teria que correr muito para ficar salva. Não sabia para onde iria nem do quê estava fugindo. Só sabia que precisava sair dali.


Seu olhar foi atraído para a janela. Viu um vulto branco cruzando o jardim em uma velocidade assombrosa, e algo em seu coração lhe avisou que aquela era a mulher que ele tanto procurara.

Dois minutos depois, estava montado em seu corcel negro como a noite que cobria o campo quando a lua se eclipsava. Cavalgava em um ritmo tenebroso, e nas duas laterais do cavalo, asas estavam marcadas à ferro em seu pêlo.


Era um lago fundo. O cavalo não conseguiria atravessá-lo, teriam que dar a volta. Ela já ouvia o barulho de cascos se aproximando, teriam que se apressar. Logo alcançariam a outra margem.


Ele vislumbrava a clareira em frente e tinha certeza que a encontraria. Apressou o passo. Chegou à margem mais próxima. Do outro lado, avistou a forma branca em uma linha retilínea em relação a sua forma preta.


Os dois únicos rostos restantes naquele universo se olharam por longos segundos. Ele sorriu.

Lá no céu, uma rachadura se fez.

E o seu sorriso começou a apagar-se.