terça-feira, 5 de julho de 2011


Ela era como uma flor de pétalas aveludadas. A face rosada, o tronco maleável pelo vento, tendo na seiva que corre dentro de si um coração cheio de espinhos.

Ele era como uma nogueira velha. As raízes profundamente arraigadas na terra, a sombra caindo pela face, o coração escondido nos recônditos escuros.

Eles cresceram ali, no mesmo cercado da praça. Ela se impressionava com a sua majestosa presença, avançando metros até o céu, enquanto ela só se afastava alguns centímetros do chão. Ele admirava a sua terna delicadeza, a cor rosada que sempre cobria suas pétalas.

Eles se aproximaram lentamente, avançando poucos centímetros por vez, levando meses para se encontrarem. Quando se tocaram, despertaram uma veia há muito tempo esquecida, que bombeava seiva para o coração. Calor, semelhante as chamas que são capazes de matar esses seres.

Certo dia, a nogueira adoeceu. A pequena flor se assustou ao ver um ser tão forte se encolhendo na fraqueza. A pequena flor chorou. E se preocupou muito, quase em exagero.

Foi então que a flor percebeu o quanto gostava daquela nogueira desajeitada e torta. Tão torta que não aceitava seus afetos preocupados.

A nogueira não irá morrer, ela melhorará. Ainda assim, a pequena flor tenta segurar sua raiz (que pareceu fria no último toque, deixando os espinhos do coração aflorarem mais uma vez em defesa) para não deixar a nogueira cair. Nem desistir.

Ainda que minúscula, irá ajudar. Sempre.



Porque nogueiras também precisam de cor.