quinta-feira, 3 de maio de 2012
Dentro do Coração da Nebulosa
Não é por ter perguntas sem respostas. É por não saber como encontrá-las.
É por olhar para o lado e enxergar apenas um mar sem fim. Estou em um barco à deriva, só. Ausente do mundo, mas mais do que isso, sentindo o mundo ausente de mim.
Percebo que quando se sente frio, medo e angústia e não se encontra nenhum pilar para se agarrar, é porque algo está errado. Não é normal não ter braços estendidos pra você.
E agora eu estou com frio. E com medo. À noite, não consigo apagar as luzes. A escuridão é muito semelhante ao meu interior.
E eu grito por socorro, e você insiste em não ouvir.
quinta-feira, 8 de março de 2012
Partido
Nunca vi um coração se dividir em partes tão iguais com sentimentos tão diferentes.
Metade de mim não aguenta ouvir mais um não. Metade de mim quer fugir, desamar, deixar você só, sentindo a perda que eu não fui. Metade quer pegar uma mochila e sair por aí, largar todos os compromissos (da mesma forma que você largou o nosso) "pra me danar por essa estrada, mundo afora, ir embora". Metade de mim só vê sofrimento. E metade de mim quer você longe.
Metade de mim contabiliza todos os sins. Metade de mim quer ficar, amar, nunca deixar você só, pra nem de longe sentir a perda que eu certamente serei. Metade de mim quer fazer compras no supermercado, preparar a comida e te esperar pra almoçar, porque sabe que "sem você, sou pá furada". Metade de mim só vê felicidade. E metade de mim quer você perto.
Metade de mim escreve esse texto.
Enquanto a outra metade fica calada.
Quanto tento descobrir qual das metades é a boa e qual é a ruim só me vem uma resposta:
isso você é quem decidirá.
Mas em uma coisa as duas metades concordam:
felicidade não é uma opção.
Então, não me deixe partida ao meio.
sábado, 20 de agosto de 2011
Pedido
Eu sinto algo estranho no ar. Uma tensão que antes não existia.
Chamem de intuição feminina, instinto ou palpite. Mas sei que tem algo errado. Algo que eu não sei.
É tão incômoda essa sensação. Por isso tenho estado tão insegura.
Você não sabe mentir pra mim.
Você me disse que contaria tudo.
Se aconteceu alguma coisa, se você viu ela de novo ou se num momento de fraqueza, cometeu um erro... Me conte. Não posso te garantir o que vai acontecer, mas vai ser melhor do que agora.
Você sabe que sou ciumenta. Sabe que tenho de ciúme de você com elas.
Quero continuar confiando em você.
Eu sei perdoar, você sabe disso.
Eu gosto tanto de você, e você também sabe disso.
Não me deixa mais nessa insegurança, meu amor. Me procure.
Me conte o que está acontecendo.
terça-feira, 5 de julho de 2011
Ela era como uma flor de pétalas aveludadas. A face rosada, o tronco maleável pelo vento, tendo na seiva que corre dentro de si um coração cheio de espinhos.
Ele era como uma nogueira velha. As raízes profundamente arraigadas na terra, a sombra caindo pela face, o coração escondido nos recônditos escuros.
Eles cresceram ali, no mesmo cercado da praça. Ela se impressionava com a sua majestosa presença, avançando metros até o céu, enquanto ela só se afastava alguns centímetros do chão. Ele admirava a sua terna delicadeza, a cor rosada que sempre cobria suas pétalas.
Eles se aproximaram lentamente, avançando poucos centímetros por vez, levando meses para se encontrarem. Quando se tocaram, despertaram uma veia há muito tempo esquecida, que bombeava seiva para o coração. Calor, semelhante as chamas que são capazes de matar esses seres.
Certo dia, a nogueira adoeceu. A pequena flor se assustou ao ver um ser tão forte se encolhendo na fraqueza. A pequena flor chorou. E se preocupou muito, quase em exagero.
Foi então que a flor percebeu o quanto gostava daquela nogueira desajeitada e torta. Tão torta que não aceitava seus afetos preocupados.
A nogueira não irá morrer, ela melhorará. Ainda assim, a pequena flor tenta segurar sua raiz (que pareceu fria no último toque, deixando os espinhos do coração aflorarem mais uma vez em defesa) para não deixar a nogueira cair. Nem desistir.
Ainda que minúscula, irá ajudar. Sempre.
Porque nogueiras também precisam de cor.
terça-feira, 28 de junho de 2011
Eu percebi que tenho dito muitas vezes que estou chateada com você.
E também percebi que isso pode estar sendo interpretado de forma errada.
Você não tem me magoado. Inclusive, acho nossas discussões muito produtivas. Hoje mesmo disse para outra pessoa que você está me fazendo abrir os olhos para o mundo e crescer. Tenho notado que fico magoada por coisas pequenas e sem sentido, e muitas vezes, por situações que eu mesmo provoco, pressupondo o que você falou. Nem sempre é assim, tenho razão em algumas brigas. Mas na maior parte, é birra.
Tenho me preocupado com isso. Porque pode ser que você pense que não estou bem ao seu lado. Naquela discussão do dia 19, você se lembra? Você mencionou que se achava a pior pessoa do mundo por me magoar assim. Eu não desmenti. E essa foi um dos meus grandes erros.
Você é incrível. É meu companheiro, amigo, colega. Me dá carinho. Me apoia, aguenta meus surtos! Me faz crescer, e muito, sempre fez. Não sei se já te disse isso, mas é uma das melhores pessoas que conheço. Me orgulho de te ter do meu lado, admiro você.
Tenho medo de nunca ter deixado isso claro. E na verdade, esse texto é mais um relato do que uma postagem poética. Só quero te dizer tudo o que não consigo falar olhando nos seus olhos.
Você é importante pra mim.
Você não me faz bem, você me faz feliz.
Estou do seu lado porque quero, porque gosto.
Não por carência. Não porque preciso.
Estou com você porque amo seus olhos, seu humor e sua sinceridade. Porque amo sua forma estranha de demonstrar carinho. Amo sua preguiça, seu desleixo, sua simplicidade.
Carinho eu posso conseguir com qualquer um.
Com você é diferente.
domingo, 26 de junho de 2011
Passos
Meus passos eram lentos e curtos, em contra-ponto aos seus, que me buscavam na direção contrária. Avistei, no escuro, um vulto que eu sabia que era o seu. Os faróis de um carro iluminaram você por um segundo, e eu tive certeza. O casaco do seu avô, o cabelo preso, aos mãos no bolso. Aquela figura alta e esquálida que eu gostava muito.
Ao perceber-te, meu corpo todo mudou. Minhas pernas, involuntariamente, aceleraram o ritmo, acompanhando meu coração. Minhas mãos se enfiaram nos bolsos e o meu foco foi para o chão. Senti um leve rubor nas bochechas e uma sensação quente na ponta das orelhas. Dentro de mim, um rebuliço. Fora também. Mas eu tentava disfarçar desviando, a todo custo, a minha atenção do lugar em que você se encontrava.
Era inútil. Os meus olhos procuravam os seus.
Ao te encontrar, um abraço. No frio, todo meu corpo foi envolvido por calor humano. E, paralelamente, por uma sensação cheia e incômoda, uma sensação de despedida, de última vez.
Sentamos no sofá. Eu olhava seu rosto, já tão conhecido, e percorria cada canto dele com as minhas mãos. As duas pintinhas marrons, na base do pescoço, que eu tanto adorava (sem você saber). Você fazia 'barulho de monstro' nas minhas bochechas, e foi a primeira vez do dia em que eu ri. Fazia menos de 5 minutos que eu estava na sua presença.
Eu alternava meu foco entre o chão (mais precisamente, o carregador da bateria do notebook) e o seu rosto. As piadas que você fazia (a maioria delas me tirando, obviamente) me faziam rir com mais vontade. Uma frase se repetia na minha mente sem parar: "eu vou sentir tanta falta dele".
Mas por que eu sentiria falta? Eu estava bem, ele estava bem, não havia sinais de tempestades no nosso céu. Não havia nada que pudesse me fazer perdê-lo. Então por que parecia que era a última vez que eu olhava os seus olhos fundos e castanhos (que hoje pareciam verdes, juro!), o seu nariz estranho, o seu bico quando fala "não"e o seu pescoço longo? Por que parecia que eu nunca mais estaria tão próxima, tão bem, tão sua?
E é claro que você percebeu que havia algo errado. Como não perceberia conhecendo todas as minhas pestes, as minhas pragas, os meus sins, os meus nadas, as minhas tão variadas e mentirosas afirmações de que tudo está bem? Conhecendo, inclusive, todos aqueles sentimentos (dos bons aos podres) que eu escondo de todos, mas não consigo guardar de você?
Mas entre todas as palavras que soltei (depois de inúmeras negações) tudo pareceu exigências. Quando na verdade, não é. Se trata de sentimento, não de tempo. Não, nem sentimento não é. É expressão. Isso. O que quero é a sua expressão. Que eu possa ler tua alma tão bem quanto você lê a minha.
Meu coração está mais calmo agora. Aliviado pelas suas certezas e olhares.
É por isso que estou escrevendo pra você. Pra saber o que sinto.
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Frio. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Solidão.Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Cansaço. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Desespero. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Fuga. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Exaustão. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Peso. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Desorientação. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Frieza. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Raiva. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Saudade. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Vertigem. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Farpas. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Medo. Distorção.
terça-feira, 31 de maio de 2011
Oím
"Ê, nunca mais eu vi
Os oím do meu amor,
Nunca mais eu vi
Os oím dela brilhar
Nunca mais eu vi
Os oím do meu amor
São dois jarrinho de flor
E todo mundo quer cheirar"
Por isso chorei.
Por pensar que eu não veria mais os seus olhos brilharem tão perto dos meus.
domingo, 29 de maio de 2011
Temporal
Um coração angustiado aguardando a morte. Ou algo muito parecido.
Uma sensação calma e serena, um leve sussurrar: "tudo passa".
E talvez a vida tenha passado também.
Fim.
Tudo sempre termina.
Se não acabou a vida, acabou essa história. Acabou a nossa história. Acabaram todas as histórias.
E eu só vejo o nada.
sábado, 21 de maio de 2011
Fim do Mundo
Foto: Ploft...
Há tantos boatos de que o mundo acaba (ou começa a acabar) hoje que não consegui me desviar dessas informações. Pleiteiam meu pensamento idéias meio divagadas, sobre o que aconteceria se isso realmente fosse verdade.
Autor: Rui Matos
Há tantos boatos de que o mundo acaba (ou começa a acabar) hoje que não consegui me desviar dessas informações. Pleiteiam meu pensamento idéias meio divagadas, sobre o que aconteceria se isso realmente fosse verdade.
Se Jesus voltasse amanhã, não teria coragem de olhar pra ele. Mesmo pra quem não é cristão, não dá pra negar que ele foi uma grande pessoa, com caráter e conceitos bem formados. Não segui seu exemplo. Ou talvez até tenha tentado, mas não cheguei nem aos pés.
Sou uma pessoa cheia de defeitos. E mais do que isso, conheço meus defeitos e muitas vezes não tento corrigi-los. Eles já fazem parte de mim. Sou suscetível aos acontecimentos da vida, e muito sensível. Sofro por coisas pequenas. E muitos me acham grudenta, mas na verdade, sou só carente.
Tenho medo de muitas coisas. E sei que muitas vezes fiz mal pra pessoas que amava. Tenho momentos de amargura e crueldade. E já cometi inúmeros pecados, sou rude e grossa de vez em quando. E quase sempre choro, por questões que poucos entendem. Forcei milhares de sorriso e menti muitas vezes dizendo que estava ótima, quando na verdade eu queria entornar um copo de formol.
Mas a idéia que mais me incomodou nesse dia foi: como eu gostaria de passá-lo? O que eu gostaria de dizer ou fazer pela última vez?
Primeiramente queria dizer que a escolha mais completa do meu coração seria passar esse dia com a minha família. Sim, tem sido momentos difíceis, mas eles são TUDO o que mais amo nesse mundo, são a razão de eu viver e de fazer tudo o que faço, são meus incentivadores, minhas inspirações, meus amores. Eles SÃO a minha felicidade.
Mas claro, isso não seria possível em um dia, já que demoro 20 horas pra chegar em casa.
Pensei, então: queria dizer algumas coisas pra algumas pessoas.
Lembrei imediatamente do Nino e da Faeca, que são pessoas tão amáveis e de quem sinto tanta saudade. Pessoas que amo e com as quais eu seria capaz de passar as 24 horas de cada dia da minha vida sem jamais me cansar. Pensei na Paolinha, que sempre forma esse novo quarteto com a gente. Nessa gorda boboca que me faz rir todos os dias e que reclama da vida comigo. Dessa criancinha meio grande que desperta o meu lado infantil (que nem está tão adormecido assim). O Leone e a Jaqueline, sempre tão presentes. A gargalhada desse monstro que dá pra ouvir da outra esquina e o prato gigante que aquele palito que a Jaque é come. Por todos os dias e noites que eles me acolheram e me deram carinho e muitaaas conversas.
Lembrei dos meus tios e primos, que estão comigo desde o meu nascimento. Ainda que não tão presentes, eu sei que posso contar com eles quando precisar. E em especial a Inês, o Odair e a Kellen, que foram minha primeira-segunda família e a Tia Diva e o Tio Vitalino, que são minha segunda-segunda família.
Aos amigos distantes que fazem MUITA falta: Alan, Raiane, Kmyla, Diego, Giovanni, Leonardo, Arissa. Das tardes de filmes e pipoca, das confidências, dos lanches e dos jogos de canastra. De tudo o que foi e quero reviver em cada minuto que posso estar com vocês. Pelas conversas inteligentes e pela cultura inútil de todos os dias. Por existirem.
Ao Erick, por ter me dado a maior lição e experiência da minha vida: o amor. Um sentimento único e etéreo, que nunca se extingue dentro da alma humana. Por me aturar por tantos anos, cuidando de mim e me dando tudo de você.
Aos amigos próximos: Cauã, Carol, Carolina, Nipo, Louise, Fabrício, Maurílio, Gaby, Felipe. Com alguns, ainda uma discreta amizade, sobre a qual eu gostaria de dizer "Tenho vontade de que cresça muito". Com outros, uma já construída relação de cumplicidade, onde troca de segredos e confiança é um ponto-chave. Pessoas do meu convívio diário (ou quase) que quando vejo eu penso "Quero abraçá-lo(a)".
A Elis agradeço pela experiência maravilhosa que tem sido trabalhar com ela e me aproximar dela. Por me dar a chance de te dar um abraço-gigante-cheio-de-amor e por não me esconder quando algo vai mal. Por me encher de orgulho e de vontade de trabalhar.
Ao Anderson eu queria dizer... o que eu poderia dizer? O quanto eu o admiro, o quanto eu o amo e adoro o abraço meio desconcertado dele? Não, seria pouco. Também não poderia dizer que a presença dele fez diferença na minha vida. É mais. É uma amizade a qual eu dou muito valor e que me transforma a cada dia. Um amor platônico. É isso que é.
Ao Geison. É muito difícil definir o que sinto. E é muito difícil te dizer o que quero. Se lembra da metáfora (terrível!) que usei pra você? Sim, você é um pássaro que foge de ninhos. Ou pelo menos, fugia. Já não sei mais se é assim. Mas sempre tive muito medo, Gê, de ultrapassar alguma linha não muito definida entre nós. Medo de criar pra você uma atmosfera familiar demais onde você não se encontraria. Jamais te tiraria a liberdade, gaiolas não são próprias para pássaros. Mas que mal existe em um pássaro entoar uma canção junto ao outro? Nenhum mal. Você é meu melhor amigo, que me ouve em todos os momentos do dia, que atura meus choros e minhas crises existenciais. Você me faz pensar e ver o que está errado, e sempre me dá uma nova ótica sobre o mesmo problema. Você me ajuda a combater os medos que tenho, e quando eu não consigo lutar, você me protege, da sua forma bizarra que tenta manter aquela fachada distante. Mas quando você me acalma sussurando que tudo está bem, aí eu entendo que você se importa.
Isso pode ter parecido meloso ou dramático. Talvez até os dois. Mas se o mundo acabar agora, eu quero que você saiba que a minha canção está sendo cantada. Que a minha voz tem ganhado mais força por causa do seu apoio, e que você pode se juntar à ela quando quiser. E olha que aqui estou falando só da amizade! =)
Isso pode ter parecido confuso pra muitos. E é. Mas se vocês entenderam o pouco do muito que sinto por cada um de vocês, já é suficiente.
Se o mundo acabar hoje, saiba que estou com vocês.
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Eu sinto medo.
São 2 e meia da manhã e eu não consigo dormir.
É engraçada e terrível essa sensação, é como se houvesse um bicho, quase uma pulga, dentro de mim, que começa apenas fazendo coceguinhas nas paredes do meu estômago, e então esse bicho vão aumentando e se alastrando, passando para os rins, o fígado, o intestino, o útero, o esôfago até chegar na garganta e me sufocar, sufocar, sufocar, sufocar.
Eu tento controlar as lágrimas, eu não quero parecer fraca, mas não dá.
Já é um monstro isso que tenho dentro de mim.
Eu não gosto do frio, mas senti-lo abranda um pouco essa sensação. Tenho que me equilibrar nessa balança, decidindo o que é menos pior.
Eu me sinto só. E tenho medo. E esse medo faz eu me sentir mais só.
Eu não quero ficar assim.
Eu sei que em casa eu estaria bem. Que eu poderia até acordar aos gritos, mas alguém viria me abraçar no meio da noite e dizer que está tudo bem.
Mas e aqui? Quem eu tenho?
Eu sinto medo, muito medo. E não sei como acabar com isso.
Medo.
sábado, 14 de maio de 2011
Eu tenho sentido falta de alguém.
De um amigo querido que tem estado tão distante. Do meu quase-irmão, quase-marido, quase-eu.
Tenho sentido falta daquele cara que me disse "Eu gosto das mesmas coisas que você, mas não tanto quanto você". Daquele garoto que imitava Feijão e Rango comigo. Tenho sentido falta da sua arrogância que nunca ofende ninguém, talvez por causa da pessoa misteriosamente popular que você é. Todo mundo te ama, e as vezes não dá pra entender. Eu já senti vontade de te matar muitas vezes. De arrancar cada fio de cabelo (que já não são muitos) para te torturar. De apertar teus três dedos podres pra te fazer sofrer.
Mentira, nunca fui tão longe. Só quis te matar. Várias vezes. Mas Zeus sabe que eu não seria capaz.
Porque eu amo você, pequeno hobbit testudo, amo muito. E eu tenho sentido falta da sua presença, das nossas brincadeiras, de passar um tempo juntos assistindo filme e comendo brigadeiro ou simplesmente falando mal dos outros.
Tenho sentido falta de você.
Volta pra minha vida, vai.
domingo, 24 de abril de 2011
Foto: The Keys II
Duas respirações. Um compasso.
Autor: Dário M. F. Santos
Eu estava aninhada no peito dele, sendo envolvida pelos seus braços. Era noite, era frio, e o seu calor me mantinha aquecida.
Ele me fazia carinho e a sensação era boa.
O ar estava tenso, a iminência do que poderia acontecer me deixava apreensiva. Por vezes sem conta pensei "Será que não estou aumentando e distorcendo os fatos?". Eu queria acreditar que não.
Eu sentia falta dele.
Tinha sido confusa a nossa história. Doeu. Machucou. Mas teve momentos impagáveis. Além disso, nossa naturalidade um com o outro cresceu muito.
Eu sentia falta dele.
Muitas coisas tinham acontecido desde então. Histórias se resolveram, outras começaram e logo acabaram e algumas nem mesmo chegaram a começar. Houve tropeços, quedas e saltos.
Mas eu sentia falta dele.
E confesso que desde o momento em que os 'fantasmas' realmente se tornaram 'fantasmas' pra mim eu pensei nele com frequência. Não entenda mal. Eu não tinha em mente nenhuma relação mais profunda que a amizade. Mas eu ficava bem na presença dele, quando a sua mão tocava, mesmo sem querer, a minha mão ou o meu rosto eu sentia um arrepio difícil de explicar. Ele era/é meu porto seguro. Era engraçado como meus problemas pareciam insignificantes quando ele estava por perto. E tinha um sorriso filho-da-puta que surgia sempre que eu o via.
Eu sentia falta dele.
E naquele momento, naquela madrugada de Páscoa, quando nossas mãos se encontraram e nossa respiração se sincronizou, eu me senti feliz. E diferente daquele outro começo, eu não fugi. Eu queria.
Porque eu sentia falta dele.
E assim como o começo foi diferente (apesar de elementos tão iguais, você notou?), a história está sendo escrita de outra forma. E estou gostando muito dessa nova fonte.
Agora, calmamente e sem planos, espero pra ver a trajetória desse vôo. E desejo que, tão cedo, eu não volte a sentir a sua falta.
Desejo que você continue aqui.
sexta-feira, 15 de abril de 2011
Não apenas uma palavra sem tradução, um sentimento.
Saudade é resquício, é mancha, é cicatriz.
Saudade é tudo aquilo que parte levando um pedacinho de nós junto.
É tudo aquilo que se vai sem que queiramos.
Saudade é acompanhar de longe o crescimento de uma árvore, é ver uma flor desabrochar sem poder observá-la de perto.
Saudade é amar aquilo que está longe dos nossos olhos, mas que nunca sairá do nosso coração.
Saudade é sim termo sem explicação.
Mas é mais, é muito mais.
Saudade é mortificação.
quarta-feira, 23 de março de 2011
Ela dançava suavemente pelo salão. Havia pessoas por todos os cantos, o chão tremia com tantos passos e o murmúrio de vozes era ensurdecedor. Ainda assim, era suavemente que ela dançava. Costurando entre as pessoas, desviando de casais, deslizando sem esbarrar em nenhum obstáculo. Seus pés mal tocavam o solo, e seus braços pendiam ao longo do corpo, onde suas mãos seguravam o longo vestido rodado. Era cor de palha seu vestido, fazendo um lindo conjunto com o cabelo de cor semelhante, distribuído em curtos cachos, e os olhos azuis da cor do céu.
Ela se zangava quando alguém lhe dizia que seus olhos eram da cor do mar. Não, não eram. O mar é volúvel, por vezes escuro e misterioso, nunca se sabe os perigos que reserva. Já o céu é claro e limpo, com um azul cerúleo que encanta. Era dessa forma que ela se portava, clara e independente. Com sua forte personalidade encantava a todos de maneira tão eficiente quanto o céu.
Mas ela percebeu que algo estava errado quando viu um homem sem rosto caminhando pelo salão. Interrompendo a sua dança de borboleta, seguiu às pressas (no limite que uma dama pode se apressar) atrás do cavalheiro. Porém, eram muitos os presentes na festa e logo perdeu de vista o seu perseguido. Só então se deu conta de que ele não era o único: agora, a maioria dos presentes também estavam sem rostos.
Foi nesse momento que, em outro canto da casa, ele se deu conta de que algo estava errado. Mantinha uma conversa mesquinha com uma garota fácil, estava apenas fazendo o jogo que antecede todas as conquistas. Para ele, aquilo era fácil. Era conhecido em toda província por suas inúmeras habilidades, muitas veneravelmente apreciadas pelas mulheres. Algumas dessas, é claro, não podiam ser mencionadas diretamente sem colocar em risco a honra dos presentes. Rivalidades existiam, já que seu encanto causava inveja em muitos pretendentes das melhores damas da cidade.
Então, sem nenhuma prévia que geralmente antecede desastres, a sua taça de vinho quebrou enquanto ainda estava em sua mão. Espantado, olhou para a mulher que o acompanhava e percebeu que sua face desaparecera. Precipitou-se à janela e lá fora avistou a cor chumbo no céu.
Nas escadarias que separavam o jardim da porta central, ela estava estática, mirando o céu. Todas as estrelas haviam desaparecido e a impressão que se tinha é de que uma camada de concreto havia coberto o céu. Seu coração batia aceleradamente, suas pupilas dilatadas buscavam alguma saída, compreensão ou resposta.
Ele percorria o salão desesperadamente. Eram tantos não-seres que seu coração pulava toda vez que avistava um rosto vazio. Tentava manter o foco: precisava encontrá-la.
Ela atravessou o jardim a passos largos, sem mais se importar com a elegância. O estábulo ficava um pouco afastado da casa do senhorio, o suficiente para não incomodar convidados em dia de visitas ou recepções, como aquela. Tentava se lembrar de como havia sido convidada.
Todos os olhares estavam voltados à ela. Era a mão mais desejada da província, todos os cavalheiros presentes desejavam solicitar-lhe uma dança, muitos com o intuito de conquistar seu coração. Ela não era apenas uma mulher de inteligência e beleza ímpar (como se isso não fosse o bastante para aguçar todos os sentidos da cidade), ela também era inalcançável. Sempre dançando só, bailando uma ciranda interior que lhe proporcionava um brilho nos olhos e um rubor na face. Eles não sabiam, mas ela dançava uma sinfonia executada por violinos e bandolins. Internamente, sua chama era mais intensa.
Um amigo seu estava pretendendo a mão de uma dama. Ele nunca a tinha visto, mas o amigo lhe garantira que era a mais bela das mulheres. Como o amigo parecia irremediavelmente apaixonado, aceitara seu convite para apadrinhar o cortejo dos dois, já que seu nome tinha forte impacto sobre as mulheres e suas famílias. Poder era sua palavra-chave.
Ela já alcançara os estábulos. Conhecia bem os cavalos, apesar de sua memória ser vaga a respeito da origem dessa familiaridade. Entre os presentes, escolheu um alasão branco, que tinha em sua ferradura as asas de Pégasus. Ela não era supersticiosa, mas sabia que teria que correr muito para ficar salva. Não sabia para onde iria nem do quê estava fugindo. Só sabia que precisava sair dali.
Seu olhar foi atraído para a janela. Viu um vulto branco cruzando o jardim em uma velocidade assombrosa, e algo em seu coração lhe avisou que aquela era a mulher que ele tanto procurara.
Dois minutos depois, estava montado em seu corcel negro como a noite que cobria o campo quando a lua se eclipsava. Cavalgava em um ritmo tenebroso, e nas duas laterais do cavalo, asas estavam marcadas à ferro em seu pêlo.
Era um lago fundo. O cavalo não conseguiria atravessá-lo, teriam que dar a volta. Ela já ouvia o barulho de cascos se aproximando, teriam que se apressar. Logo alcançariam a outra margem.
Ele vislumbrava a clareira em frente e tinha certeza que a encontraria. Apressou o passo. Chegou à margem mais próxima. Do outro lado, avistou a forma branca em uma linha retilínea em relação a sua forma preta.
Os dois únicos rostos restantes naquele universo se olharam por longos segundos. Ele sorriu.
Lá no céu, uma rachadura se fez.
E o seu sorriso começou a apagar-se.
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Notas soltas
Os primeiros raios de sol da manhã se esgueiram pelas venezianas do meu quarto. Desperto silenciosamente, com um estranho sorriso em meu rosto, e ouço mentalmente trechos da sinfonia nº 8 em sol maior de Dvořák.
Aos poucos, memórias da noite passada voltam a minha mente.
Eu cantava. Cantava "Pra ser sincero", pensando em outro alguém. Ele adora Engenheiros. Adoraria estar aqui (mas não, ele não está).
Regendo a música, dois irmãos com nomes interessantes. Nomes de personalidades que admiro ou repudio. Uma conversa agradável sobre grandes musicistas se inicia entre nós três, e rapidamente surge uma afinidade e um misterioso carinho entre nós. Com os pitacos de uma loira gente boa, nossa conversa fluía até que não resisti ao ouvir "Ilu Ayê" tocando no som, e me precipitei pra pista de dança.
Enlouquecida, dançava com todo o pessoal das Cênicas, e permaneci dançando por muito tempo. Quando olhei pro lado, ali estava ele, o irmão mais novo, dançando junto comigo. "Que surpresa", pensei, porque ele era um pouco reservado. Mas, sem me dar conta da teia que estava se formando ao meu redor, continuei no meu ritmo. Sentia os olhares julgadores em mim, e cada vez que um conhecido próximo passava e me via dançando com ele, gestos de "estou de olho em você" eram expressados pra mim.
Dois amigos formavam a roda íntima junto comigo. Amigos do coração, que aprendi a amar rapidamente.
Uma hora se passou, e lá estava eu brincando no gira-gira com o irmão mais velho, que já estava milhas adiante de Bagdá.
Sentados um pouco afastados de todos, conversamos. Ele me disse, bêbado, o quanto era óbvio o interesse do irmão mais novo por mim. Mais uma vez, me senti idiota. Por que as coisas eram tão claras pra todos menos pra mim? Será que a inocência com a qual eu brinco tanto realmente existe? Por que, mais uma vez, não era óbvio pra mim.
Encabulada, acabei evitando-o. Não, não queria me envolver com ninguém agora. Era tão recente o fim, eu não havia esquecido e dois de cada três pensamentos meus envolviam o meu outro alguém. Eu não estava preparada.
No fim da festa, depois de tantos desencontros provocados por mim, o destino quis que uma rosa nos unisse. Sentada em uma mesa, as 4 horas da manhã, ele se aproximou e disse-me o que queria. Eu expliquei para ele a situação delicada em que me encontrava e, para minha surpresa, ele não insistiu. Concordou que era complicado e que, apesar de não modificar as intenções dele, ele compreendia a minha confusão.
Fiquei pasma. Era a primeira vez que via um homem falar assim.
E, soando como a 8ª sinfonia em sol maior de Dvořák, ele disse encarando-me com um olhar profundo:
Te conheço tão pouco, e já te esperaria a vida inteira.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Só pra você se lembrar
Ah, que dia!
Chorei, ri, trabalhei, passei mal, comi, sorri, entrei em crise, contei.
Contei o que não deveria ter contado, mas como você disse, aconteceu.
Agora você sabe, agora não consigo te olhar nos olhos.
Agora tudo vai ser diferente?
Espero que não...
Enquanto meu corpo tremia, enquanto minha mente oscilava, alguns pensamentos ainda eram claros.
Alguns pensamentos que falavam de você.
Não espero o melhor dessa situação. Sei que você vai se afastar e, ai, isso dói muito em mim.
Mas queria que você entendesse. É significante. Não é grande nem pequeno, apenas é.
Carinho.
Por favor, me diz que nada vai mudar.
Afinal, tudo o que eu disse é: gosto de você.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Para um marujo
As ondas daquele mar eram densas e profundas.
Negras, às vezes encaracoladas ou pipocadas.
As ondas daquele mar eram surpreendentes e perigosas.
Navegando em um pequeno navio veleiro, havia um marujo. A barba mal aparada denotava os dias que velejava em alto-mar, que já contavam meses. As protuberâncias na testa (bastante extensa, por sinal) conotavam a preocupação de um navegador experiente em vias de tempestade.
"Mau tempo", ele disse, olhando o céu fixamente. "Devemos nos preparar para a tempestade", lançou em tom grave.
Éramos três.
O marujo, dono destes mares, comandava o navio. Tinha sobre suas costas o peso das ondas, mas carregava em seu coração o espírito de Netuno. Nos vincos de seu rosto, a força de uma determinação infinita e a experiência de uma alma planteada de vivências.
O seu imediato era um efusivo jovem, com cabelos longos e roupas mal cuidadas (principalmente os sapatos, não sei como conseguia andar com aquilo!). Não possuía a sapiência do marujo, mas tinha igual força de vontade e curiosidade.
Eu, uma serva de Etros. Salva por acaso, mantida por acaso, amada por acaso.
Agora, me encolhia na popa. O medo tomava conta dos meus nervos e eu via a morte certeira vindo ao meu encontro.
O céu era uma mescla de marrom e preto. As nuvens tingiam suas bordas com luzes claras e repentinas, e os barulhos do céu calavam os ruídos do mar.
As ondas agitavam-se e erguiam-se metros acima de mim, como se travassem uma batalha épica com as forças que regem o firmamento. Eu via cones desenhados no céu, e uma tromba d'água se formou ao leste.
O medo corroía minhas entranhas.
Passos no convés. A pouca luz que restava no céu produziu uma sombra sobre mim, e os meus olhos não se ergueram por medo de encontrar em meu foco o olhar castanho e gentil daquele homem.
Com a ponta dos dedos, ele tocou minha testa. Aos poucos, deslizou sua mão pelo meu rosto, cerrando meus olhos, enquanto repetia baixinho "calma, calma, calma".
Minha respiração normalizou-se e meu coração desacelerou seu ritmo. A voz do marujo foi ficando distante, e só pude sentir à minha esquerda, ainda meio distante, a presença do imediato, que observava de longe a cena. Preocupação, era isso que irradiava dele. Mas era tão genuína que me comoveu ao invés de me assustar.
Os primeiros raios de sol invadiram a cabine. Abri os olhos, e minhas pupilas indecisas saltaram por um tempo até se acostumarem à luz do lugar. As camas ao meu lado arrumadas, o navio silencioso como um templo. Apenas o burburinho do mar era audível.
Subi ao convés e encontrei estirado próximo à quilha o imediato, encharcado e dormindo um sono de exaustão. Por instinto, corri à ponte para buscar cobertores e toalhas secas, quando vi parado à proa o marujo. Ele estava de costas pra mim, com as mãos cruzadas atrás, o corpo ereto e roupas secas. Ao seu lado, um bolo de tecidos envoltos por uma poça de água.
"O que aconteceu com...", ele fez um gesto para eu me calar.
Me aproximei, curiosa para descobrir o que ele estava observando. Seus olhos estavam perdidos no horizonte, focalizando a linha tênue que separa o mar do céu. O dia estava bonito novamente e qualquer sinal de tempestade desapareceu por completo.
Cinco minutos se passaram e nenhum músculo do marujo se moveu.
Dez minutos e a primeira palavra. Uma ordem. "Ouça".
Mais dois minutos.
"Sempre ouça o mar. Não importa a cor do que se aproxima, o mar sempre diz a mesma coisa."
Focalizei, então, minha atenção no burburinho das ondas. E depois de vários minutos (talvez até horas, porque o sol já ia a pino), ouvi, de longe:
"calma, calma, calma".
E então, compreendi. O marujo agora me olhava. As rugas nos olhos tornaram-se lindas pela largura do seu sorriso. Meu coração estava aos pulos e meus pensamentos saltitavam nas gavetas da minha mente.
Ele me abraçou. Imediatamente, entendi que Etros havia sido bondoso.
Aquele era o meu lugar. O mar.
"A tempestade?", perguntei.
E ele me respondeu: "Já passou."
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Tudo me parece estranho, mas as formas vão se delineando no escuro.
Imagens de medo e terror são reconhecidas pela minha mente.
Clareando lentamente como o amanhecer, as figuras se transformam: eram apenas frutos da minha imaginação.
Me encontro em um quarto pequeno, limpo e mobiliado. "Meu coração", penso e me surpreendo. Não era assim que eu o imaginava. Pensava que ele era como o saguão de um castelo francês do século XIII, ou como uma sala inglesa do período imperial, ou ainda como uma casa de campo na Alemanha, repleta de jardins.
"É pequeno aqui", e úmido, e frio. Como um lamento, faço minha observação mais perspicaz: ninguém habita este lugar.
Como, como isso pode ser verdade? Se amo tantas pessoas, se daria minha vida por algumas delas, se desejo passar o resto dos meus dias com uma? Como nenhuma delas se encontra aqui?
Olho mais uma vez ao redor e noto coisas que deixei passar. Um retrato do meu batizado, o meu urso Tito, meu primeiro caderno de caligrafia, o livro "O Elefante Basílio", o cristal quebrado de minha primeira discussão, o anel dos meus 15 anos, o sangue da minha virgindade, as lágrimas da minha partida, folhas datilografadas com meus escritos, projeções nas paredes com minhas palavras, duras e calmas.
Com horror, noto que o quarto começa a sangrar. Rachaduras que eu não havia percebido antes cospem os detritos do meu órgão involuntário. Lembranças que pulsam meu coração e que o lembra de suas feridas.
Rachaduras mais antigas, remendadas com reboco, começam a inchar. O quarto, encharcado de vermelho, dá sinais de que irá explodir a qualquer momento. "Solidão", penso, e vejo no espelho todos os erros que cometi. Meu rosto, rasgado, costurado e repleto de hematomas, estampa horror. Choro, e um líquido negro escorre dos meus olhos.
Três batidas, rápidas como as do meu coração. À porta, uma figura negra, com asas. Em sua mão, uma seringa com um visco tão negro quanto seus olhos (que destoavam tanto dos seus castanhos!, não pude deixar de pensar). O ser encarou-me, e senti como se minha alma fosse perfurada. Com um único movimento, preciso como ventania, cravou nas paredes do quarto (e só então percebi que tudo ali era formado de carne) o instrumento de suas mãos.
Meu coração foi enegrecendo, contorcendo-se, soltando gemidos acelerados com o som do seu pulsar. Aos poucos foi murchando, cada vez mais negro, e suas batidas foram ficando lentas.
O coração já me sufocava. Porque, desde o momento em que o ser adentrara (e sentia como se ele tivesse entrado em mim), não consegui me mover. Paralisei, não por horror ou medo, mas por não ter pra onde fugir.
O ar me faltava. Meu corpo, coberto por sangue e visco negro, preparava-se pro seu último suspiro.
O ser me sorriu, e seu sorriso era branco e brando.
Desperto.
Minha respiração e pulsação aceleradas. Meu corpo encharcado de suor, meus olhos vidrados.
Olho pro lado e existe alguém ali. Por quanto tempo, não sei. Como um relógio ouço as batidas do seu coração, marcando meu tempo.
A imagem do quarto vazio volta à minha mente. O sorriso do ser invade minhas retinas, e posso sentir entranhando-me no corpo a escuridão do seu lívido desejo.
Matar-me do modo mais cruel. Da maneira mais poderosa.
Em minhas narinas, sinto cheiro de sangue.
"Sozinha", escuto em meu pensamento.
E apodreço em suor, sangue e visco.
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Para um anjo alto
As nuvens não estavam desenhadas. O céu não se mesclava entre o roxo e o rosa, e aquele pôr-do-sol não foi doce. O dia amanheceu claro, mas o tempo tratou de acizentá-lo.
Chovia.
As memórias da noite passada, já meio distantes, traziam um gosto amargo na boca. A preocupação, a elaboração de hipóteses, o medo.
E agora, as borboletas no estômago.
Chovia.
Choviam lágrimas dos meus olhos.
Ao lembrar de todas as vezes que olhei pro céu nos últimos meses, voltou-me uma visão. A imagem de um anjo, alto. Cara de guri, sorriso doce, cabelo comprido, barba por fazer. Olhos fundos e gentis. Tão gentis que fizeram eu me perder no primeiro instante.
Um anjo alto. Me estendendo a mão.
Milhares de vezes eu o vi. E o anjo estava sempre ali, a me ajudar. Poucas vezes o vi triste, sem forças. Poucas vezes ele fraquejou. Sua mão nunca se recolheu, eu a encontrava sempre estendida. Oferta.
Certo dia notei o anjo diferente. Seus olhos fundos se encontravam tristes, seu sorriso sombrio, sua altura minimizada pelo encolhimento. A mão estendida em súplica. Pedindo ajuda.
Chovia.
O primeiro pingo verteu dos olhos do meu anjo.
A chuva caiu límpida dos meus. O anjo, clemente, me pedia desculpas, me pedia conselhos, me pedia respostas. Eu não as tinha. Eu nem sequer podia perdoá-lo porque, eu queria que ele entendesse!, não havia o que perdoar. Eu também não tinha as soluções, não tinha a poção que o faria parar de pingar.
O segundo pingo brotou da consciência do meu anjo.
Porque ele se deu conta da sua condição. Errou, e agora sofria por isso. Carregava nas mãos o peso de um mundo (eu via esse peso refletido em seus olhos fundos), sentia em suas costas o porvir fatal (eu sentia em seu abraço apertado o quase-medo que lhe cercava). O anjo me disse, entre temporais, que não podia perder o que tinha. Que não queria.
O terceiro pingo escorreu pelo canto do olho do meu anjo.
E então, ele sorriu. Percebeu que não estava só, que era amado. Ah, sim, anjo, era muito amado. Que, ainda que uma nova vida tenha começado, que erros graves tenham sido cometidos, que consequências teriam que ser encaradas, não passaria por isso sozinho. Sim, havia um outro anjo, com um olhar puro e um sorriso apaixonante, com ele. E uma mortal, que os amava com todos os batimentos acelerados de seu coração.
A chuva parou.
E no sol, entre nuvens descarregadas, pude ver mais uma vez a imagem do anjo alto. Seu sorriso era doce novamente. Sorri de volta.
Olhando em seus olhos (fundos, sempre fundos!) notei que compreendeu a mensagem. Ele não perderá o que tem. Jamais.
Sua mão não está mais estendida pra mim.
Agora andamos de mãos dados.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Para um velho amor
Nunca, nada nunca acaba.
Não acaba porque foi intenso, porque é verdadeiro, porque será eterno.
Nunca, nada nunca morre.
Porque ainda que, aos poucos, o tempo desgaste os compassos da nossa melodia, e o ritmo vá se distanciando da salsa e se aproximando da 5ª sinfonia de Bethovenn, não cessa. Os corações ainda pulsam embalados pelo bolero da meia-noite.
Nunca, nada nunca perece.
Sempre existe a memória, prece de todos os dias, pra nos recordar do momento passado. O momento presente, esse sim, é formado por precisas ligações entre o anterior e o próximo. O esquecimento não existe. Ele apenas é um lapso atemporal de nosso espaço.
Nunca, nada nunca sobrevive.
Sobreviver é uma conturbada forma de seguir em frente. É estar sobre a vida, além dela. O amor não sobrevive. Ele vive. Ele revive.
Nunca, nada nunca passa.
Porque mesmo se tornando passado, não passou exatamente. Ficou guardado em alguma gaveta das lembranças, dos eternos, das revistas.
E não pense que "velho" é um pejorativo. É apenas pra lembrar o quão antigo é esse sentimento nutrido por duas almas que são velhas conhecidas. Porque não, não pode ser dessa vida.
Esse amor é muito mais antigo do que eu.
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Vá pro inferno com o seu riso! Não, não vá, não, por favor, se for, me leva contigo. Me perdoa, eu estou confusa, meio perdida, sei lá. Quero te dizer algo importante, só não sei como. Estou com frio. Não, não quero um casaco, obri-. Não, também não quero entrar, só quero que me escute. Eu sei, ficar no sereno faz mal, eu sempre estou pesteada, posso me gripar, eu sei, mas é rapidinho, só me escuta, só preciso te dizer algo. Eu só queria te dizer que eu li sim aquele conto que você pediu pra eu ler, meio confusa aquela coisa, sobre avencas, samambaias, pinheiros. Sim, sim, muito bonito, é verdade, o cara escreve bem. Não, não achei engraçado, é bem sério, muitas vezes as pessoas não escutam e simplesmente partem. Você está fazendo isso agora e nem se dá conta, olha pra mim, por favor, por onde você anda? Sempre viajando, sempre tão longe. Sim, as nuvens, bem bonitas. Isso me lembra uma fala do meu texto, voar e. Espera, me escuta, volta pra cá. Isso, me abraça, o teu calor espanta o frio, às vezes você fica tão distante... Não estou reclamando, só estou dizendo que. Eu entendo, sei que tens pouco tempo, muitas coisas pra fazer, mas será que a gente não poderia agir normalmente pelo menos por aqui? É que as vezes parece que você foge, que vai pra longe e tenta me evitar - não, eu não estou te acusando. Me escuta, eu só sinto a sua falta. Falta, entende? Não, não ria, por favor. Isso é sério, eu sinto sua falta e. Vá pro inferno com o seu riso!
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Como presa em um pesadelo, sempre volto para o meu ponto de partida.
Fujo. E não adianta.
Corro. Em uma esteira.
E grito. Grito muito. Grito mudo.
Choro. Desesperadamente, silenciosamente.
Porque não encontro minhas respostas.
E eu pergunto "O quê eu faço?"
E ninguém sabe me responder.
Continuo pulsando o medo e a covardia, a culpa e a vergonha.
Continuo a correr.
Eternamente em círculos.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Não doeu. Incomodou.
Eu já sabia. E não era no fundo, era na camada mais externa da pele. Eu sentia. Eu tocava essa idéia com os dedos da minha alma.
Não acariciava nem batia.
Apenas apalpava, com uma curiosidade quase ingênua.
Quando você verbalizou, foi quase uma canção. Uma canção de consolo, não de lamento. Como se estivesse contando a uma criança que seu bicho de estimação havia morrido. Ou ido pro céu.
Quando reagi, foi estupidamente. Apenas disse "Eu já sabia". E pensei todas as coisas que escrevi, mas não disse nenhuma delas.
E então, o soco. Não era alguém qualquer. Não era indiferente pra você. E você só disse "Eu não queria ter feito isso".
E ainda não doeu. Só incomodou.
Como um capim que de alguma forma misteriosa, entra no sapato mas não machuca, só incomoda. Ás vezes até faz cócegas.
E o mais estranho de tudo é como agimos agora. Como fui pra casa com a cabeça cheia de coisas pra pensar, como nos despedimos de modo tão... reticente, como oscilamos entre o agir normalmente e a estranheza quando estamos sós...
Mas isso não dói. Só incomoda.
Porque a minha intuição me preparou pra tudo isso. E, como você diria, graças a Zeus não me apeguei.
Só não quero que fiquemos assim. Porque te amo, te amo muito, e não quero te perder, nunca. Você já faz parte da minha vida. E odeio esse abismo que vezenquando se cria entre nós. Não quero que nos afastemos.
Porque aí sim irá doer.
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Respirar
Foto: De sombra e luz
Autor da foto: Ricardo Fernando da Silva
Duas respirações. Um compasso.
Eu sentada no chão, você deitado no sofá. Minha cabeça deitada em seu peito, seu braço me envolvendo pela cintura, sua mão me fazendo carinho nos cabelos.
600 segundos. Segundos de eternidade. Segundos dobrados, triplicados. Multiplicados por cada batida do coração.
600 segundos. E nada.
Tua mão desceu do cabelo para a orelha, da orelha para a nuca, da nuca para o rosto. Meus pontos fracos, mas você não sabia disso.
O braço na cintura me prendia como em um forte, me trazia pra mais perto.
Milhões de pensamentos.
A mão em minha bochecha se aproximava carinhosamente da boca. Aceleração.
As batidas do meu coração ficaram mais ligeiras.
As batidas do teu, que eu ouvia, também.
Medo.
Tua respiração se aprofundou, a minha quase paralisou.
Mais medo.
Interrupção.
Você se ajeitou no sofá, abriu lugar pra mim.
Conferimos os horários, deitamos os dois no sofá.
O teu braço, novamente, na minha cintura.
A tua mão, novamente, nos meus cabelos.
Os nossos rostos a poucos centímetros de distância.
Silêncio.
Conversa. Bobagens.
Um beijo no rosto diferente de todos os milhares recebidos antes.
Um beijo de provocação.
Medo.
Fuga.
Autor da foto: Ricardo Fernando da Silva
Duas respirações. Um compasso.
Eu sentada no chão, você deitado no sofá. Minha cabeça deitada em seu peito, seu braço me envolvendo pela cintura, sua mão me fazendo carinho nos cabelos.
600 segundos. Segundos de eternidade. Segundos dobrados, triplicados. Multiplicados por cada batida do coração.
600 segundos. E nada.
Tua mão desceu do cabelo para a orelha, da orelha para a nuca, da nuca para o rosto. Meus pontos fracos, mas você não sabia disso.
O braço na cintura me prendia como em um forte, me trazia pra mais perto.
Milhões de pensamentos.
A mão em minha bochecha se aproximava carinhosamente da boca. Aceleração.
As batidas do meu coração ficaram mais ligeiras.
As batidas do teu, que eu ouvia, também.
Medo.
Tua respiração se aprofundou, a minha quase paralisou.
Mais medo.
Interrupção.
Você se ajeitou no sofá, abriu lugar pra mim.
Conferimos os horários, deitamos os dois no sofá.
O teu braço, novamente, na minha cintura.
A tua mão, novamente, nos meus cabelos.
Os nossos rostos a poucos centímetros de distância.
Silêncio.
Conversa. Bobagens.
Um beijo no rosto diferente de todos os milhares recebidos antes.
Um beijo de provocação.
Medo.
Fuga.
domingo, 4 de julho de 2010
Fogo
Foto: Diamantino Abobeleira
O fogo crepitava. Seu riso era como sinos soando distantes e suaves, seu sorriso fazia vezes de sol, que não raiava.
Seus gracejos faziam todos gargalhar, suas imitações de mulheres... bem, da vida, criavam minutos de pura euforia.
Hoje, quando penso sobre isso, me questiono se era fingimento. Difícil acreditar. És ótima atriz, mas ninguém é tão perfeito. Acredito que as coisas estavam um pouco mais amenas do que hoje.
Também não sei dizer em que ponto tudo mudou. Não existe um marco de tempo. Aos poucos, fui percebendo. Ainda acho que demorei muito, talvez, ou não quisesse assimilar e aceitar tudo.
Até que, numa certa tarde de terça-feira, por coincidência, nublada, te procurei. Seus olhos inchados ardiam mais do que o fogo dos seus cabelos. O brilho, quase apagado, se renovava quando o que brotavam eram lágrimas. Foi a nossa conversa mais sincera, acredito. Te falei das caixinhas, me falaste dos sonhos. Choramos. E senti uma tristeza enorme ao te ver assim. Ao me sentir inútil, impotente. Inerte num campo de batalha que, agora, também era meu.
Te senti próxima. E senti um laço que não se romperia facilmente. Nem com a distância.
Todas as vezes que disse que te amava não foram mentiras. Nem leviandades. Amo você. Inexplicavelmente, e sem motivo aparente. Simplesmente amo. E me preocupo, demais.
Por isso quero o melhor para você. Como te disse todas as vezes que conversamos sobre isso, escolha aquilo que te fará bem. Sem pressão, sem preocupações. Só o que o seu coração e a sua mente te pedem.
Seja qual for sua decisão e o lugar em que estará, sempre estarei contigo. Meu apoio é eterno.
O fogo? Continua aí, balançando contra o vento. Não se apagou, não. E continuará a queimar enquanto alimentares ele. E eu ajudarei em mais essa tarefa.
Amo você, meu fogo.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Leoa
Se houver uma luta, eu me retiro. Não vou brigar. Não vou me ferir, me despedaçar, machucar outra pessoa por amor. Sou uma falsa leoa. Acuada, por medo. Mais do que medo, por dor.
Se houver outra, não vou reclamar. Porque o esquecimento é normal, somos humanos. E amar faz parte do ciclo de vida, é necessário.
Se houver pretendentes, não roubarei a vaga. Não poderei conviver com a culpa de, talvez, ter roubado a felicidade de alguém.
Não vou lutar. Porque não tenho forças.
Porque mesmo que bastasse um "sim" pra você me escolher, eu não conseguiria pronunciá-lo.
A leoa está ferida.
sábado, 24 de janeiro de 2009
quarta-feira, 9 de julho de 2008
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Foto: In Your Hands...
Autor: Alberto Viana d'Almeida
Eu tento transformar meus sentimentos em palavras, querendo expressar as emoções que afloram em mim. Sei que você nunca lerá isso, talvez por falta de coragem da minha parte, talvez por falta de atenção da sua. Mas, mesmo assim, quero dizer o que sinto.
O nosso amor poderia ter dado certo. Ele poderia ter sido diferente. Com um pouco mais de sinceridade sua e paciência minha. Isso bastava, porque amor a gente tinha de sobra. Mas essa não é a hora de apontar defeitos, até mesmo porque já acabou, e o que passou não volta.
Quero falar sobre o que você significou pra mim. Você foi mais do que uma aventura, foi mais do que um simples namorado. Afinal, foram um ano, dois meses e três dias juntos, num total de 429 dias. Foi muito tempo para o mundo em que vivemos.
Nesse tempo juntos, não fomos somente namorados. Fomos amigos, amantes, casados. Muitas vezes você me chamava assim, de sua fada-amante-esposa-namorada. Éramos completamente apaixonados um pelo outro. E o nosso amor ultrapassava tudo e todos que eram contra aquilo que vivíamos.
Você foi tudo pra mim. Era você quem estava do meu lado quando eu precisava. Você secava minhas lágrimas, me fazia sorrir. Você me abraçava e me fazia sentir coisas que não sei explicar, só sinto com você. Eu me sentia segura nos seus braços, como se nada pudesse me atingir. E o seu carinho era o que me acalmava, me consolava, me fazia feliz. Os seus beijos me mostravam que eu não precisava de tudo, só de você. E era só você quem eu queria.
Talvez você me recrimine por estar colocando isso aqui. Você nunca gostou daquilo que eu escrevia. Mas eu te entendo, você é um homem de cálculos. E apesar de essa e todas as diferenças, nós nunca nos importamos. De verdade, tudo o que eu queria era viver toda minha vida ao seu lado, para sempre. Até ficarmos bem velhinhos e morrermos juntos dormindo, de mãos dadas. Era isso que você dizia pra mim. Era isso que você queria. Eu sei disso, amor.
É por isso que não entendo o que deu errado. Por que o passado precisava vir nos assombrar agora? Estávamos tão felizes, não tínhamos medo de nada. Só queríamos viver. E aí, sua história voltou. Não que tenha sido algo grave, mas minha confiança foi abalada. Eu pensava que sabia tudo de você, tudo do seu passado. E aí surge isso. Repentinamente, sem prévio aviso. Fiquei em estado de choque. Eu não queria acreditar. Eu queria que você não me deixasse acreditar.
O nosso fim foi triste. Silencioso, resignado. Ignoto, até. Poderia ter sido diferente. Mas não foi. E aqui está sua segunda chance. Nossa segunda chance. A minha esperança (pouco provável, confesso) é que você leia isso daqui e entenda o que quero te dizer. Entenda que te quero de volta, sem me importar com nada. Que te amei, te amo e sempre vou te amar.
Eu te espero, tá? Ainda que você nunca venha, continuarei a te esperar...
Da fada eternamente sua.
sexta-feira, 14 de março de 2008
Dia da Poesia!!
Foto: Mirando o Ouro da Porta do Sol
Autor: Jandi
Autor: Jandi
Quem é ela?
Quem é essa que bate na porta
durante a madrugada?
Quem é essa moça
Pequenina
Que toca um sino
Durante o dia?
Quem é essa senhora,
Maldosa
Que faz silêncio durante a correria?
É poesia, seu nome,
Que invade e consome
Os corações serviçais.
Poesia,
Minha menina,
Não nos deixe jamais.
segunda-feira, 10 de março de 2008
domingo, 24 de fevereiro de 2008
Hai-kai ao Cinema
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Foto: Sem título
Autor: Alexandre P.
Autor: Alexandre P.
Onde foi parar a menina dos olhos da cor do céu
E do mar?
Estará debaixo da terra
Onde é o seu lugar?
Ou andará pelo mundo há vagar
Buscando as incertezas da vida?
Aonde encontrará essa pobre menina
As respostas que há dias
Vem tentando encontrar?
Será seu desejo realizado
E o mundo e o seu lado
De repente se arranjar?
Menina, menina
Menina que chora vê,
Até quando o teu mundo
Viverá a morrer?
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
Campanha "Perca um Livro"!
Nome: O coração
Autor: Nuno Ricardo Chaves
Autor: Nuno Ricardo Chaves
Lendo o título, vocês devem estar me achando uma louca...Mas essa é a mais nova campanha de incentivo à leitura lançada no Brasil...Já esteve funcionando na Europa, e no Brasil já está sendo um grande sucesso.
Participar é fácil:
1. Leia um bom livro;
2. Cadastre o livro e escreva seus comentários para pegar seu código único e a etiqueta correspondente ao livro;
3."Perca" o livro em um lugar público.
De posse do código o leitor poderá rastrear pelo tempo que quiser os caminhos percorridos pelo livro.
Gostou?Eu tenho certeza que a pessoa que receber o livro gostará muito!
Tá aí a minha dica...
Site para cadastro do livro e maiores informações: http://www.livr.us/
Comunidade no orkut: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=40534409
domingo, 3 de fevereiro de 2008
Foto: Exaltação de um turbilhão colorido I
Autor: Ana
Autor: Ana
Perdão.O ato mais bonito, o sentimento mais terno.Negros são os momentos que o antedecem, mas a paz que se estala após o seu concílio é reconfortadora.
A paz de ter a certeza de que esse amor não se perderá, que sobreviverá ao tempo e a todos os obstáculos que podem cercá-lo.
O amor é o único sentimento que cicatriza rápido uma ferida.
Por que?
Porque amor não se sente só.
Eu te amo.
♥
sábado, 2 de fevereiro de 2008
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
Foto: O Pianista
Autor: Tiago Xavier
Autor: Tiago Xavier
Teus versos
à Pierre Nazé
Sentada em um sofá branco,
Porém impuro,
Li os teus versos.
Alguns me fizeram chorar,
Outros, pensar,
Muitos, gargalhar.
Havia algo que te denunciava,
Que te gritava,
Que mostrava que estavas ali.
Era o teu jeito de escrever,
Inconfundível,
O jeito que sempre quis ter,
Mas que me conformei
Em perder.
E sendo eu,
Minha admiração por ti só cresceu
E ainda cresce.
Por isso (e por outras)
És meu ídolo.
Meu herói.
Meu irmão.
terça-feira, 20 de novembro de 2007
Foto: Magic Numbers
Autor: Ana Franco
-Você acha que eu vou brigar com você?
-...
-Vocês queriam me tapear, não é?
-Não, não é isso, é que...
-Deixa quieto.
O teu sorriso me incomodava.Esfaqueava o meu coração, oprimia todo aquele amor.O teu sorriso era daqueles que existe apenas pra ocupar o lugar das lágrimas que estão a brotar.
Não deu pra falar, mas talvez você já saiba, eu não sei mentir pra você.Não sei esconder nada de você.O teu olhar desnuda a minha alma.
Way Back Into Love...
Pra você...
Eu queria ter tido aquela conversa
Aquela conversa que não tive coragem de iniciar,
Que não terminaria se iniciasse
E que me salvaria se terminasse.
Eu queria ter tido aquela conversa
Que livraria meu coração do afogamento,
Que sufocaria as lágrimas do olhar,
Que me traria de volta à você.
Eu queria ter tido aquela conversa
Na qual você me perdoaria
Dos erros acertados que cometi,
Dos acertos incompletos que suspendi.
Eu queria ter tido aquela conversa
Que me faria sua,
Que te faria meu,
Que nos uniria pra sempre.
Eu queria ter tido aquela conversa...
Aquela conversa que nunca aconteceu.
Autor: Ana Franco
-Você acha que eu vou brigar com você?
-...
-Vocês queriam me tapear, não é?
-Não, não é isso, é que...
-Deixa quieto.
O teu sorriso me incomodava.Esfaqueava o meu coração, oprimia todo aquele amor.O teu sorriso era daqueles que existe apenas pra ocupar o lugar das lágrimas que estão a brotar.
Não deu pra falar, mas talvez você já saiba, eu não sei mentir pra você.Não sei esconder nada de você.O teu olhar desnuda a minha alma.
Way Back Into Love...
Pra você...
Eu queria ter tido aquela conversa
Aquela conversa que não tive coragem de iniciar,
Que não terminaria se iniciasse
E que me salvaria se terminasse.
Eu queria ter tido aquela conversa
Que livraria meu coração do afogamento,
Que sufocaria as lágrimas do olhar,
Que me traria de volta à você.
Eu queria ter tido aquela conversa
Na qual você me perdoaria
Dos erros acertados que cometi,
Dos acertos incompletos que suspendi.
Eu queria ter tido aquela conversa
Que me faria sua,
Que te faria meu,
Que nos uniria pra sempre.
Eu queria ter tido aquela conversa...
Aquela conversa que nunca aconteceu.
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
Foto: Mundos imaginários
Autor: Luis Garção Nunes
Entrei no banco e sentei na cadeira da fila.Ao lado, tinha uma garotinha.Morena, cabelos cacheados, muito bonita.
-Vó, pra quê são aqueles buracos ali na parede?
-Não sei.
-São pra colocar luzes. - eu disse.
-Mas pra quê luzes?Já tem muitas aqui!
- ... (O homem nunca se contenta com o que tem)
Fiquei pensando como aquela garotinha sabia mais do mundo do que eu.Devia ter 4 anos, 5 no máximo.Seu nome era Vanessa, foi assim que ouvi a vó dela chamá-la.
Um homem sentou do meu lado.
-Ele é seu primo?
-Não.
-Seu namorado?
-Não.
Ela olhou para o envelope nas minhas mãos.
-Ah, você trabalha!
-Sim. - sorri.
-Onde você mora?
Pensei.
-Lá pra baixo - respondi.
-Como é o nome do seu filho?
-Hã?
-Como é o nome do seu filho?
-Eu não tenho filho.
-Você nasceu pra mãe e está sem filho?!
-...
-Ela é moça ainda, Vanessa.Ela nem casou ainda!Pergunta pra ela se ela é casada.
-Você é casada?
-Não.
-Ah, quando minha mãe era moça ela tambem não casava.
Parei.Fiquei pensando no que aquela garota disse.Eu era uma mãe sem filhos.Quem sabe.
-Você não parece humana...
-Como?
-Parece um daqueles serzinhos pequenos do Sítio do Picapau Amarelo...
-Uma fada! - disse a irmãzinha dela.
Sorri.Talvez eu fosse uma fada.
O terceiro caixa abriu.Eles chamaram os que tinham mais de 3 documentos.Me separei da pequenina.
Na saída, perguntei sua idade. 4 anos. Me despedi.
-Tchau, pequena.
-Tchau, fada.
Aquela garotinha marcou a minha vida.
Autor: Luis Garção Nunes
Entrei no banco e sentei na cadeira da fila.Ao lado, tinha uma garotinha.Morena, cabelos cacheados, muito bonita.
-Vó, pra quê são aqueles buracos ali na parede?
-Não sei.
-São pra colocar luzes. - eu disse.
-Mas pra quê luzes?Já tem muitas aqui!
- ... (O homem nunca se contenta com o que tem)
Fiquei pensando como aquela garotinha sabia mais do mundo do que eu.Devia ter 4 anos, 5 no máximo.Seu nome era Vanessa, foi assim que ouvi a vó dela chamá-la.
Um homem sentou do meu lado.
-Ele é seu primo?
-Não.
-Seu namorado?
-Não.
Ela olhou para o envelope nas minhas mãos.
-Ah, você trabalha!
-Sim. - sorri.
-Onde você mora?
Pensei.
-Lá pra baixo - respondi.
-Como é o nome do seu filho?
-Hã?
-Como é o nome do seu filho?
-Eu não tenho filho.
-Você nasceu pra mãe e está sem filho?!
-...
-Ela é moça ainda, Vanessa.Ela nem casou ainda!Pergunta pra ela se ela é casada.
-Você é casada?
-Não.
-Ah, quando minha mãe era moça ela tambem não casava.
Parei.Fiquei pensando no que aquela garota disse.Eu era uma mãe sem filhos.Quem sabe.
-Você não parece humana...
-Como?
-Parece um daqueles serzinhos pequenos do Sítio do Picapau Amarelo...
-Uma fada! - disse a irmãzinha dela.
Sorri.Talvez eu fosse uma fada.
O terceiro caixa abriu.Eles chamaram os que tinham mais de 3 documentos.Me separei da pequenina.
Na saída, perguntei sua idade. 4 anos. Me despedi.
-Tchau, pequena.
-Tchau, fada.
Aquela garotinha marcou a minha vida.
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